CARTAS DE GUERRA

Vejo quase tudo o que se vai produzindo em Portugal e acaba numa sala de cinema. Agora vou vendo menos por estar longe destes cinemas. Mas com pena. É uma tradição que tenho há muito tempo. Se há filmes portugueses em cartaz vou ver. Algumas excepções às comédias, acho que mais por preconceito que por outra coisa. 

Não é por pena. Nem por sentimentos patrióticos. Gosto mesmo de muito cinema português. Alguns dos meus filmes preferidos são portugueses. A alguns regresso mesmo muitas vezes. Das bandas sonoras mais incríveis que tenho visto são destes filmes. E depois a língua... Os diálogos, os cenários, as ruas, as casas. Tudo me fala de uma maneira diferente. As histórias são todas mais próximas. Se o filme se passar há muito tempo, feito agora ou não, é mais especial.  Empola mais ainda o sentimento de pertença. Não me perco em pormenores da vida deste tempo que eu conheço na primeira pessoa. Sou ligeiramente menos crítica. Deixo que a história me leve mais facilmente. Acho que deve ser esse o segredo de quem publica romances históricos. 

Cartas de Guerra, fui com muita expectativa. Toca em coisas que me são queridas. Os últimos anos do Estado Novo. A guerra. Esta guerra. Correspondência. Fascinam-me os contrastes que o ser humano cria automaticamente em situações extremas. Inflama-se a sensibilidade, a poesia, quando o cenário é o horror, a morte e a guerra. 

As cartas, lidas com voz de mulher baralham por isso mesmo... Por serem profundamente masculinas. A beleza vem daí também, dos pares deste filme. As cartas, escritas por ele, lidas por ela. O que ele escreve, o que ele vive. O que ele escolhe contar-lhe e a realidade que as imagens mostram. O filme todo dividido em dois, em dimensões várias. 

Acho que por isso, no fim do filme quis ver outra vez logo de seguida. Fiquei com a certeza absoluta de não ter absorvido nem metade daquele homem, que se expõe ali. De uma maneira mais complexa que simples e que precisa de muito mais tempo que o das horas de filme.