LISBOA, FLORES E JARRAS
Há diferenças enormes entre Lisboa e Londres, entre a vida cá e lá. Lá e cá. Não vou ser mais específica sobre onde é o cá e onde é o lá porque eu também já não sei bem.
O tempo passa de uma maneira diferente, os dias têm rotinas que não se ligam e volto a um sítio e a outro como se de lá nunca tivesse saído. E os dias passam como se fossem duas linhas paralelas, duas vidas que quase nem se tocam. Na minha cabeça Lisboa tem sempre sol. Mesmo quando não tem. Londres tem sempre papas de aveia muito quentes. Lisboa tem flores que não são presunçosas nem caras nem um luxo nem uma extravagância. São só flores. São cravos se forem as minhas preferidas e se for tempo disso.
Estes são cravos brancos de um verão em Lisboa. São cravos do mercado da Ribeira que é de onde vêm quase todas as flores lá de casa. É assim que se compram muitas flores sem muito dinheiro. Se quisermos um arranjo bonito também nos fazem. Mas o melhor é comprar flores aos molhos, escolher os molhos mais gordos. Naquele corredor entre os restaurantes e as frutas e os legumes. Há um talho e quatro ou cinco floristas. Já foram mais. Ficaram estas. Algumas com mais paciência para responder às minhas perguntas sobre nomes de flores e truques para as manter vivas. Outras que acham mal eu não levar cores mais vivas e flores mais vistosas. Eu gosto assim.
Quando as flores chegam a casa escolho a jarra para elas. É bom ser rápida, não as deixar fora de água muito tempo. Tiro as folhas dos pés que vão ficar dentro da jarra. Corto-as, mas sem ser demais. Vou pegando em porções pequeninas e dispondo com cuidado. Primeiro as que quero que fiquem mais curtas. Depois as mais altas. Normalmente em menor quantidade.
E os cravos pedem sempre algum protagonismo. E portam-se muito bem nestas jarras de cano alto. Preto e fino. Que os cravos são flores com boa memória. Mesmo os que não são vermelhos.