O QUE COMEMOS DE MELHOR EM PARIS Parte 1
2017 começou em Paris. E é só o começo.
Nos próximos 5 dias vou publicar os 5 sítios onde comi melhor em Paris.
O primeiro deles é:
Square Trousseau – Quem me recomendou foi um francês, quem me levou lá foi outro francês, quem estava lá eram outras dezenas de franceses. O que me leva a crer que França é um sítio cheio deles. Principalmente no Square Trousseau.
O melhor de tudo, provavelmente a melhor coisa que comi em Paris: o bife tártaro. E eu que achava que já tinha provado bifes tártaros muito bons. Nada a ver. Todos os que eu provei nesta minha vida roçavam o medíocre em comparação com este. Era tradicional, não tinha grandes invenções. Trouxeram os molhos para a mesa mas eu nem me servi deles de tão perfeito que estava o tempero. Segundos antes de vir o bife tártaro, vieram pratos e pratos de batatas fritas, deliciosas apesar de pouco salgadas, cortadas como as avós cortam as batatas e fritas, arrisco-me a dizer, como os belgas as fritam: Extraordinariamente bem.
Risotto de trufa: Paga-se bem mas come-se trufa, e bem. Sendo a manteiga a melhor amiga dos franceses, tive receio que abusassem e me trouxessem um risotto cozido nela em vez de em caldo. Felizmente não foi o caso. Para além de lascas finíssimas de trufa por cima, havia claramente no caldo também. E quem prova fica automaticamente mais chique, o nível sobe: apetece usar saltos altos e anéis por cima das luvas, enfiar um caniche na carteira da Louis Vuitton e estalar os dedos para chamar o empregado. Dizem que há quem tenha falta de chá, eu diria mais: falta de trufa.
Borrego: Era chambão, cozinhado a temperatura baixa e por mais tempo do que a maior parte dos turistas passam no Louvre. Quase a despegar-se do osso com um demi-glace lindo. A acompanhar veio puré de batata: só para o caso de eu ainda não me ter apercebido onde estava, veio num pratinho a lembrança. Um puré de batata de excelência, na consistência perfeita, nem um bocadinho elástico (muito frequente entre chefs com a mania dos purezinhos homogéneos), bem temperado, a dose suficiente de líquido para a de batata. Um puré de fazer corar de orgulho o Parmentier.
L’indécent profiterole: Quando abro um menu, os meus olhos fogem sempre mais para o fim, não só porque sou terrivelmente gulosa, mas até por uma questão de gestão. Isto porque uma pessoa tem que decidir se deve pedir entrada ou não, o que no meu caso depende de haver algo de interessante nas sobremesas. Muito importante a gestão de expectativas durante a refeição: “Não comas tanto pão que vem aí o chambão.” “Calma, Leonor, não te enerves que ainda vem aí a sobremesa”, e muitas outras coisas que passam na minha cabeça ligeiramente esquizofrénica. Quando olhei para aquela sobremesa até fiquei com a impressão que a tinham sublinhado com aqueles marcadores que uma miúda do 8º ano usa para os resumos. Foi preciso o tal bife tártaro para me desviar a atenção. Era de facto indecente, a massa choux não podia ser melhor, com o gelado gelado e um molho de chocolate quente que foi deitado mesmo à minha frente. Calma, não foi directamente para a minha boca, há que manter a classe com que comi o risotto de trufa.
E é também de sublinhar com marcador fluorescente aquela baguete que nos chegou num cestinho com uma manteiga salgada que apetecia meter ao bolso de tão francesa, e por isso tão bem feita, que era.
As fotografias não são as melhores mas foram as possiveis.