ÉVORA
É o Alentejo mais perto de Lisboa, demora-se uma horinha de carro que pode parecer uma eternidade se estivermos como eu estava, sedenta de migas e sericaias, azeitonas e pão em forno de lenha. Pode parecer um instante se se for com a janela do carro aberta a ver as planícies e o gado (a imaginá-lo no meu prato) e com o António Zambujo no rádio.
A minha viagem foi um misto dos dois. Já tínhamos parado em Alcácer do Sal e eu tinha tirado a barriga de miséria com uma queijada de pinhão e uma pinhoada que fui roendo enquanto passeava à beira do Sado.
Fomos diretamente à Tasquinha do Oliveira sem sequer passar pelo hotel, tal era a fome.
E eis que era o Alentejo, com petiscos já na mesa. É que nem um minutinho tivemos que esperar, havia um queijo de cabra atabafado, feito com leite fervido que acompanhava com doce de tomate feito lá e muitíssimo bem. Caranguejo simples, fizeram por nós a parte chata do trabalho e não muito mais. Empada de perdiz com alho porro que era tão, tão boa, uma massa que deixava a perdiz brilhar, o alho porro que dava uma certa doçura- Almoçava só aquilo. Empada de galinha que se via que era de facto uma galinha que lá estava.
Depois disto tudo lá tivemos que pedir umas migas com entrecosto- eu tinha umas saudades valentes. A D. Carolina sabe o que faz, e a nossa sorte é que ela faz migas e entrecosto. Em cima vinham uns alhos fritos que eu comi porque eram deliciosos mas sobretudo porque faz muito bem ao coração. Ai isso é que faz, aliás, toda esta refeição faz muito bem ao coração. Acreditem que saí de lá de coração e barriga cheia.
Como se deve acabar a refeição com uma peça de fruta: pedi uma ameixa de Elvas. Ah e ao lado também vinha uma sericaia, mas isso é irrelevante. É só para aconchegar.